(Betto Gasparetto)

By Dall-E 3
I
As palavras, então, se tornam símbolos de uma saudade indefinida, de algo que foi perdido e que talvez nunca mais seja encontrado. E eu, na minha solidão introspectiva, me pergunto se ainda há algum propósito em tentar. Se as letras já não têm mais força, se as vozes se calam diante da frieza humana, o que resta? Talvez apenas o silêncio, esse silêncio que agora parece ser a linguagem universal.
II
Mas mesmo o silêncio carrega em si um peso. Ele é feito das coisas não ditas, das emoções reprimidas, das palavras que nunca foram pronunciadas. E, nesse silêncio, há uma eloquência que muitas vezes nos escapa, uma mensagem que se esconde nas entrelinhas do que não foi dito. É um silêncio que fala de dores profundas, de medos que não ousamos encarar, de um mundo que perdeu sua capacidade de se conectar verdadeiramente.
III
E eu continuo a vagar, entre palavras que já não têm a mesma força, entre frases que se desfazem antes mesmo de serem completadas. É um exercício de resistência, talvez, ou de teimosia. Insisto em tentar encontrar algum resquício de calor humano, algum vestígio de emoção genuína. Mas, a cada tentativa, a frieza do mundo parece me cercar mais e mais, como um nevoeiro denso e gelado.
IV
Talvez seja essa a grande tragédia do nosso tempo: termos nos afastado tanto de nós mesmos que já não conseguimos mais ouvir as nossas próprias vozes. As palavras que um dia nos definiram, que nos uniram, agora se perdem no ruído incessante da vida moderna. E, nesse ruído, a frieza se instala, fazendo com que cada um de nós se torne uma ilha, isolada, distante.
V
Ainda assim, eu escrevo. Escrevo porque, apesar de tudo, ainda acredito que há um poder nas palavras, mesmo que esse poder esteja adormecido, enfraquecido. Escrevo porque, de alguma forma, é a única maneira que tenho de lutar contra essa frieza que nos envolve. É a minha tentativa de acender uma pequena chama em meio à escuridão, de manter vivo um resquício de humanidade.
VI
E, quem sabe, um dia, essas palavras que agora se emudecem na frieza humana possam encontrar eco em outra alma. Quem sabe elas possam ser o começo de uma ponte, uma conexão que nos tire desse isolamento emocional. Porque, no fundo, todos nós buscamos isso: uma conexão, um toque que nos faça sentir que ainda estamos vivos, que ainda somos capazes de amar, de nos emocionar.
VII
E enquanto houver esse desejo, enquanto houver essa necessidade de transcender a frieza e a distância, ainda há esperança. As palavras podem estar emudecidas agora, mas elas têm dentro de si o potencial de renascer. E eu, na minha insistência poética, continuo a esperar por esse renascimento, por esse momento em que as letras, finalmente, romperão o silêncio e nos devolverão o calor que tanto buscamos.
(Betto Gasparetto – x/xxi)

