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NAS PALAVRAS DISTANTES AS LETRAS EMUDECERAM-SE NA FRIEZA HUMANA (II/II)

Posted in Sem categoria on 31 de agosto de 2024 by Prof Gasparetto

(Betto Gasparetto)

By Dall-E 3

I

As palavras, então, se tornam símbolos de uma saudade indefinida, de algo que foi perdido e que talvez nunca mais seja encontrado. E eu, na minha solidão introspectiva, me pergunto se ainda há algum propósito em tentar. Se as letras já não têm mais força, se as vozes se calam diante da frieza humana, o que resta? Talvez apenas o silêncio, esse silêncio que agora parece ser a linguagem universal.

II

Mas mesmo o silêncio carrega em si um peso. Ele é feito das coisas não ditas, das emoções reprimidas, das palavras que nunca foram pronunciadas. E, nesse silêncio, há uma eloquência que muitas vezes nos escapa, uma mensagem que se esconde nas entrelinhas do que não foi dito. É um silêncio que fala de dores profundas, de medos que não ousamos encarar, de um mundo que perdeu sua capacidade de se conectar verdadeiramente.

III

E eu continuo a vagar, entre palavras que já não têm a mesma força, entre frases que se desfazem antes mesmo de serem completadas. É um exercício de resistência, talvez, ou de teimosia. Insisto em tentar encontrar algum resquício de calor humano, algum vestígio de emoção genuína. Mas, a cada tentativa, a frieza do mundo parece me cercar mais e mais, como um nevoeiro denso e gelado.

IV

Talvez seja essa a grande tragédia do nosso tempo: termos nos afastado tanto de nós mesmos que já não conseguimos mais ouvir as nossas próprias vozes. As palavras que um dia nos definiram, que nos uniram, agora se perdem no ruído incessante da vida moderna. E, nesse ruído, a frieza se instala, fazendo com que cada um de nós se torne uma ilha, isolada, distante.

V

Ainda assim, eu escrevo. Escrevo porque, apesar de tudo, ainda acredito que há um poder nas palavras, mesmo que esse poder esteja adormecido, enfraquecido. Escrevo porque, de alguma forma, é a única maneira que tenho de lutar contra essa frieza que nos envolve. É a minha tentativa de acender uma pequena chama em meio à escuridão, de manter vivo um resquício de humanidade.

VI

E, quem sabe, um dia, essas palavras que agora se emudecem na frieza humana possam encontrar eco em outra alma. Quem sabe elas possam ser o começo de uma ponte, uma conexão que nos tire desse isolamento emocional. Porque, no fundo, todos nós buscamos isso: uma conexão, um toque que nos faça sentir que ainda estamos vivos, que ainda somos capazes de amar, de nos emocionar.

VII

E enquanto houver esse desejo, enquanto houver essa necessidade de transcender a frieza e a distância, ainda há esperança. As palavras podem estar emudecidas agora, mas elas têm dentro de si o potencial de renascer. E eu, na minha insistência poética, continuo a esperar por esse renascimento, por esse momento em que as letras, finalmente, romperão o silêncio e nos devolverão o calor que tanto buscamos.

(Betto Gasparetto – x/xxi)

NAS PALAVRAS DISTANTES AS LETRAS EMUDECERAM-SE NA FRIEZA HUMANA (I/II)

Posted in Sem categoria on 31 de agosto de 2024 by Prof Gasparetto

(Betto Gasparetto)

by Dall-E 3

I

Os dias passam como folhas que caem de uma árvore já quase desfolhada. Cada vez mais me deparo com essa realidade inescapável: as pessoas se afastam, tornam-se espectros de si mesmas, vivendo em uma frieza que parece não ter fim. É como se a vida se tornasse uma rotina de sobrevivência emocional, onde o distanciamento é a regra e a proximidade, a exceção.

II

À medida que observo o mundo ao meu redor, não posso deixar de sentir um vazio crescente. As palavras, que antes fluíam com naturalidade, agora se tornam hesitantes, como se tivessem medo de sair e enfrentar o vazio gelado que as aguarda. Elas se retraem, se calam, e na frieza humana, as letras emudecem-se, perdendo seu poder de tocar, de emocionar.

III

Tento, às vezes em vão, romper essa barreira invisível que parece separar-nos uns dos outros. Busco nos olhos alheios um reflexo de calor, de vida, mas encontro apenas o brilho opaco de uma existência anestesiada. Parece que todos construímos muralhas em torno de nossas almas, como se temêssemos que, ao nos abrirmos, seríamos consumidos pela dor que evitamos a todo custo.

IV

É complicado entender as pessoas, pois muitas vezes nem elas mesmas se compreendem. Vagueiam por seus próprios desertos interiores, carregando fardos que não conseguem compartilhar. E, nesse silêncio compartilhado, na ausência de um verdadeiro diálogo, o mundo se torna um lugar árido, onde o calor humano é uma raridade, uma miragem distante.

V

O que restou das palavras que um dia foram nossas companheiras mais fiéis? Onde está a poesia que nos unia, que nos fazia sentir vivos? Ela parece ter sido enterrada sob camadas de indiferença, sufocada pelo peso de uma existência que perdeu seu encanto. As letras, que antes dançavam em versos e rimas, agora se escondem, tímidas, em um canto escuro da nossa consciência.

VI

E, no entanto, ainda persiste em mim o desejo de encontrar algum sentido nesse vazio. Continuo a escrever, a tentar capturar em palavras aquilo que parece escapar a cada tentativa. Mas, como é difícil! As palavras se tornam pesadas, arrastadas, como se estivessem sendo puxadas para o fundo de um abismo emocional. E, na frieza das almas que encontro, elas se emudecem, impotentes.

VII

Às vezes, tento lembrar-me de um tempo em que a vida parecia mais simples, em que as palavras tinham o poder de unir, de curar. Mas esse tempo parece tão distante, quase inalcançável. Como se pertencesse a uma outra vida, a uma outra pessoa que eu já não sou. E tudo o que resta são as sombras desse passado, vagando pelas memórias como fantasmas de um sonho esquecido.

(Betto Gasparetto – x/xxi)

SUSSURROS AFÁVEIS

Posted in Sem categoria on 9 de agosto de 2024 by Prof Gasparetto

(Brenda Gasparetto)

by DALL-E 3

I

Ó infindáveis horas, no contratempo e no romper das minhas lástimas!
Trazei de volta os abraços daquele que outrora abrigaram meu ser,
Abraços tais que alimentaram minh’alma amargurada com ternura.

II
Ó devorador dos filhos de Zeus!
Trazei de volta aquele que enalteceu meu pranto e transformou-os
em melodias únicas, como o despertar das auroras, como o cantar dos pássaros,
como os astros e a luz do luar, sempre exaltando tudo que é belo…
Perpetua em mim os sussurros afáveis de meu amado, digno e santificado até o meu último respirar…
E para que nessa terra de corações deserdados, assim eu possa tentar me salvar!
III
Ó areia que se desfaz nos dedos da eternidade,
Peço-te que alivie a saudade infinita que em meu peito está, reconfortando a vontade aflita de
querê-lo só para mim…
E em devoção, eu afirmo convicta
Que em meio a muitas despedidas, meu sofrer jamais terá um fim…

IV
Ó labirintos temporais que por onde escorre os “ais”…
Atendei minhas súplicas!
Salvai meu coração que insiste pulsar em ritmos fleumáticos, na penumbra …
Livrai o meu sonhar das amarguras

para enfim expor meu amor à suave luz da lua!
Permita-me que eu conquiste triunfante, trazê-lo dos meus versos agonizantes,
para um resplandecente renascer!
V
Ó misero destino!
Fazei-me encantar como Orfeu em desalinho, pois ando a compor e a sonhar em delírios com o meu amor! Não quero ser torturado no Hades que insisteem querer manter no peito a saudade …
Na finitude do meu ser, eu evoco canções que tombam em cadência…
Num mero sonho a contemplar e com um triste suspirar nessa eterna penitência.

(Brenda Gasparetto – viii/xxiv)