(Betto Gasparetto)
Átrio 7 – Bastardos Juízes

By Dall-E 3
I
(…)
II
Ah, que estranha é a face do julgamento,
Quando aqueles que sentam sobre o trono da lei
Não são senão bastardos da justiça,
Filhos do erro, herdeiros da vaidade!
Vós, que, com palavras cheias de veneno,
Dizeis o que é certo e o que é errado,
Com as suas bocas sujas de engano,
Com os seus corações podres de prepotência,
Que direito tende de pesar a balança da verdade,
Quando a sua própria essência está corrompida?
III
Ah, como sois raposas no campo da moral,
Que, com um sorriso de superioridade,
Tendeis a proclamar, como deuses, o veredicto,
Mas vossas mãos tremem ao tocar o peso da razão!
Bastardos, vós não sabeis o que é justiça,
Pois a verdadeira justiça é o olhar do justo,
E não o olhar impuro de quem,
Perto do poder, perdeu a alma.
Como podem aqueles que são filhos do erro
Impôr o peso da verdade sobre os inocentes?
IV
O que é a lei, senão um reflexo do que somos?
E se somos prejudicados, como pode a lei ser pura?
Vós, que ergueis os olhos para julgar,
Com que coragem o fazeis, quando o pecado
Mora no mais íntimo dos vossos corações?
A verdade escapa de seus lábios como veneno,
E a mentira, cheia de ouro, escorre de suas mãos.
Vocês não são juízes, mas carrascos,
Com penas de prata, que destroem as almas
Com a mesma facilidade com que arruínam os corpos.
V
Que ironia é esta, que se diz de vós como justos,
Quando, na essência, só são servos do egoísmo?
Bastardos juízes, vossas sentenças são vazias,
E o que é dito de vós se dilui no vento,
Pois, no fim, a verdadeira justiça não reside
Nos tronos que vós ocupais, mas no coração
De quem, ao ser julgado, permanece digno,
Enquanto vós, com vossas falácias,
Caem como figos podres da árvore da mentira.
VI
O seu império é de fumo, é de ilusão,
Construído sobre areia movida de interesses sujos.
E o povo, que segue cegamente,
Não percebe que o próprio sistema que cria
Está condenado a ruir sob o peso da sua hipocrisia.
Ao final, bastardo juiz, o que restará de vós
Será apenas o eco de uma mentira que jamais poderá ser redimida.
VII
(…)
(Betto Gasparetto- xi/xcvi)



