Arquivo para junho, 2025

O RISO DAS COBRAS EDUCADAS

Posted in Sem categoria on 30 de junho de 2025 by Prof Gasparetto

(Betto Gasparetto)

By NC Flux Schnell+ Starlight XL, Atomix XL v4 Lightning

I

Quão belas são vossas gargalhadas!
Cobras de fraque empunhando taças,
Que deslizam entre almas encantadas
Enquanto inoculam em sorrisos as traças.

Vossos dentes — brancos, polidos —
Ocultam o veneno de mil rugidos
Que, em tom culto, soam comovidos,
Mas são sentenças de falsos gemidos.

Rides de mim, como quem lê um poema
E não entende a dor por detrás do lema,
Mas ri porque ignora ou despreza.

Oh, serpentes letradas da ironia,
Continuai vossa falsa cortesia…
Já vos vejo enforcadas pela própria esperteza.

(Betto Gasparetto – v-mmxiii)


A INDIGESTÃO DOS INVEJOSOS

Posted in Sem categoria on 29 de junho de 2025 by Prof Gasparetto

(Betto Gasparetto)

By NC Flux Schnell+ Starlight XL, Atomix XL v4 Lightning

I

Vede, ó irmãos de estômagos ruidosos,
Que regurgitais fel a cada conquista!
A inveja vos corrói com impulsos furiosos
E vos torna sombra raivosa e imprevista.

II

Não suportais o brilho que em mim não é vosso,
E por isso vosso amor tem gosto de ossos,
Pois mastigais sucesso com remorsos
E expelis ternura com torp’esforços.

III

Sois intestinos da alma adoecida,
Má digestão da glória alheia vivida,
Inflamados de bile e rancor.

IV

Mas o que vos mata não é meu acerto,
É o fato de serdes por dentro tão perto
Do abismo que disfarça o próprio horror.

(Betto Gasparetto – v-mmxiii)


A SOLIDÃO DOS ABRAÇOS TARDIOS

Posted in Sem categoria on 28 de junho de 2025 by Prof Gasparetto

(Betto Gasparetto)

By NC Flux Schnell+ Starlight XL, Atomix XL v4 Lightning

I

Guardai vossos abraços tardios,
Eles são réstias de carne sem calor.
Abraçar-me agora é gesto vazio,
Como caixão decorado sem dor.

II

Tardastes demais no gesto sublime,
E agora ele fede, se deprime,
Como cadáver que já não redime
E no escuro do peito só imprime.

III

Quereis tocar-me após me deixar?
Vossa ternura agora é tardar
E vossa presença, indigesta.

IV

Quem chega após a agonia do grito
Só pode ser taxado, no rito,
Como o espectro póstumo da festa.

(Betto Gasparetto – v-mmxiii)

O CEMITÉRIO DOS NOMES BEM VESTIDOS

Posted in Sem categoria on 27 de junho de 2025 by Prof Gasparetto

(Betto Gasparetto)

By NC Flux Schnell+ Starlight XL, Atomix XL v4 Lightning

I

Enterrei nomes com paletó de linho,
Que em vida foram corvos em festa.
E sobre suas tumbas, sem carinho,
Crescem sarcasmos em forma de floresta.

II

Não escreverei epitáfios polidos,
Nem farei luto aos bem nascidos,
Pois seus legados — frios, fingidos —
São folhas secas em dias perdidos.

III

Que fiquem ali, sob mármore nobre,
Pois toda nobreza que engana e cobre
Termina igual ao mais vil mendigo.

IV

No fim, um nome em ouro não vale
Mais que um cão que não te fale,
Mas ao menos não morde o antigo amigo.

(Betto Gasparetto – v-mmxiii)


O IRÔNICO E ÚLTIMO BANQUETE

Posted in Sem categoria on 26 de junho de 2025 by Prof Gasparetto

(Betto Gasparetto)

By NC Flux Schnell+ Starlight XL, Atomix XL v4 Lightning

I

No fim, sentamo-nos todos à mesa,
Inimigos e feridos, rindo e calados,
Comemos a ironia da sobremesa
Servida em pratos de espelhos quebrados.

II

O brinde é feito com sarcasmo e fel,
E cada taça estilhaça o papel
De quem fingiu ser anjo ou réu
Na grande farsa do convívio cruel.

III

E eu, que sangrei entre os convidados,
Sorrio também, entre os disfarçados,
Pois o último riso será o mais são.

IV

E no banquete dos mortos afetos,
Sirvo versos como pratos corretos
E engasgo os traidores com minha mão.

(Betto Gasparetto – v-mmxiii)