(Brenda GG)

Doloroso é abrir os olhos e perceber-me
na superficialidade,
Aninhada nos destroços que essa lucidez
deixou.
É a quietude, o passo mais perto
que me corroí —
Inevitavelmente.
Aquele milésimo de segundo que
distanciara sua mão fria
Do meu eu morno.
Antevejo a dor maior quando
O fragmento dessa lembrança for
lançado ao espaço,
Oco.
E o martírio repentino e repensado
milhares de vezes
Sobre a evitabilidade do abandono.
Inclino minha cabeça pesada ao longo
braço de um sofá envelhecido.
Atiro meu corpo ali, como um animal
abatido,
Aguardando a dissecação.
Sinto-me observada através do teto,
Que se assemelha às bordas de um
abismo familiar.
Lindo, transparente, porém cortante.
Fecho os olhos.
À espera de que, sutilmente, a sonolência
atordoada de divagações angustiantes
Me adormeça, imperceptível, imprecisa e
doce.
(BRENDA GG – xvii-xii-mmxxv)