(Betto Gasparetto)

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I
O jardim floresce em tua ausência,
Mas em tua volta o perfume se completa.
Os pássaros retomam a cadência,
E o tempo esquece o que nos inquieta.
Em cada flor há um toque do teu riso,
Em cada folha um sopro do teu ar.
E o coração, sereno e indeciso,
Aprende, enfim, o dom de repousar.
O sonho é casa — e o teu, morada,
Onde a vida se faz renovada.
II
O sótão guarda as coisas do passado:
Cartas, retratos, velhas melodias.
Mas tudo ali respira em novo estado,
Pois teu amor as faz alegorias.
O tempo, comovido, perde a pressa,
E o pó se torna ouro sobre as tábuas.
Até o silêncio, dócil, te confessa
Que o amor venceu o medo e as mágoas.
E o teto, ouvindo, abre-se em clareza,
Como quem aprende a natureza.
III
Quando a noite cobre a arquitetura,
O amor acende as lâmpadas do ser.
E o mundo inteiro encontra a estrutura
Do verbo simples e do bem querer.
Teu sonho é casa, templo e fortaleza,
De pedra, riso, fé e confissão.
E eu, que nele moro com leveza,
Sou hóspede da própria redenção.
Nada há mais eterno que teu gesto,
Nem mais sagrado que o que manifesto.
IV
E quando o tempo, um dia, nos chamar,
A casa ficará no chão dos ventos.
Mas seu alicerce irá perpetuar
Na eternidade dos sentimentos.
Pois o que o amor constrói em harmonia
Nenhuma dor ou sombra há de apagar.
E o sonho, que era casa e poesia,
Será memória pronta a iluminar.
Assim termino o plano e o projeto:
Amar-te foi meu único arquiteto.
(Betto Gasparetto- vii-mmxvii)