(Betto Gasparetto)

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I
Te espero em tardes claras de demora,
Onde o tempo descansa nos relógios.
A vida, paciente, não implora,
Mas te pressente em ventos e refugos.
Cada minuto é um rio transparente,
Que corre manso em direção ao encontro.
E o coração, fiel e diligente,
Guarda o rumor do passo que desponto.
O amor, nesse reinado da esperança,
É coroa, é dor, é confiança.
II
Te espero em noites longas de silêncio,
Quando a lua parece tua pele.
O mundo se retrai, o céu é denso,
E o peito acende o fogo que revela.
As horas passam lentas, mas suaves,
Como se a eternidade me ensinasse
Que o tempo, mesmo lento, é ave,
Que voa só quando o desejo nasce.
E a espera, que seria dor e cansaço,
É semente de paz e de abraço.
III
Te espero entre os gestos da rotina,
No pão cortado, no café das oito.
Em cada ato, a vida me ensina
Que o simples é o que o amor foi feito.
A solidão, que antes era sombra,
Agora é campo fértil e fecundo.
Pois tua ausência, que em mim assombra,
É o que me liga ao todo e ao mundo.
Na mesa posta há sempre um lugar,
Que a fé, discreta, insiste em reservar.
IV
Te espero quando o vento muda o rumo,
E traz no ar um gosto de retorno.
É quando o coração refaz o sumo,
E o peito, em festa, ergue seu contorno.
Cada lembrança tua é claridade,
Que risca o céu de prata e sentimento.
E a vida, comovida, em verdade,
Transforma a espera em fundamento.
Assim o tempo aprende a não temer,
E o que era ausência vira renascer.
V
Te espero, e a cidade se acomoda,
No compasso manso do que é certo.
As luzes brilham, tímidas, na moda
De imitar o teu olhar desperto.
Os prédios são castelos do futuro,
As ruas, rios em constante canto.
E o coração, cansado, mas seguro,
Segue o teu rastro e esquece o pranto.
Pois o amor, em sua lei primeira,
Faz do esperar a fé verdadeira.
(Betto Gasparetto- vii-mmxvii)