Arquivo para 25 de dezembro de 2025

Estradas que o Destino Deixou Cruzar

Posted in Sem categoria on 25 de dezembro de 2025 by Prof Gasparetto

(Betto Gasparetto)

By Kontext 2v1+InG Flux Schnell+ Starlight XL, Atomix XL v4 Lightning

I

Te vi chegando em luz de fim de tarde,
E o chão sorriu, cansado e delicado.
O vento abriu cortinas sem alarde,
E o tempo disse: agora é o teu cuidado.
Teu passo traduziu meu próprio passo,
E a rua aprendeu novo compasso.
O dia respirou entre teus ombros,
E a pressa adormeceu sem seus escombros.
Falaste pouco; a pele completou,
O que a distância, tonta, não contou.
O rumor da cidade, em nós, perdeu,
O gosto de ser ruído que ardeu.
Estendi a mão, cabiam dois invernos,
E duas primaveras já internas.

II

Teu nome, antigo, soou como destino,
E o coração seguiu pelo teu caminho.
Eu vi no céu um mapa de chegada,
E nele teu olhar era a estrada.
Os semáforos do mundo se renderam,
E as buzinas cansadas se calaram.

Teu riso fez do outono doce abrigo,
E o verão pendurou-se no teu trigo.
Partimos sem partir: ficamos perto,
E o longe foi mudando o seu deserto.

III

Descemos a calçada em voz baixa,
E o céu acendeu lâmpadas de praia.
Eu te ouvi dentro, antes de escutar,
Porque o silêncio aprendeu a falar.
Teu gesto desatou nós invisíveis,
E as rotas se tornaram mais possíveis.
Quem olha de fora chama de acaso,
Mas nós sabemos: era outro prazo.

O tempo, alfaiate, acertou barras,
E o destino pregou botões nas garras.

IV
Teu beijo reposicionou meus móveis,
E a casa respirou fundos mais nobres.
Na mesa era evidente o reencontro,
E a xícara cabia o mar sem ponto.
Falamos de manhãs que ainda viriam,
De telhados, varandas, romarias.
Prometemos o simples: estar presentes,
E repartir o pão das nossas mentes.
Prometemos silêncio quando bastar,
E a palavra sóbria para cuidar.

V
Eu prometi teu nome num abrigo,
Tu prometeste a calma de um amigo.
E assim seguimos, leves de projeto,
Com o futuro pousado no concreto.
Se a chuva ensaiar sua impaciência,
Seremos nós a casa da paciência.
Se o sol exigir sombra e clareira,
Daremos nós a sombra verdadeira.
Se o mundo levantar seus precipícios,
Ergueremos cordames e ofícios.

(Betto Gasparetto- viii-mmxxii)