A Casa Que o Destino Nos Empresta
(Betto Gasparetto)

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I
Há uma casa onde o destino mora,
Entre o agora e o que não se prevê.
Nela o silêncio fala e o tempo ora,
E cada quarto abriga o verbo “crer”.
As paredes guardam ecos de esperança,
E o chão, memória de passos antigos.
A janela abre em flor e lembrança,
E o teto é céu sem medo nem perigos.
Foi lá que a vida, sábia e benfazeja,
Assinou o contrato da peleja.
II
A casa tem janelas que conversam,
Com o rumor manso das horas lentas.
E as cortinas, que ao vento se dispersam,
Parecem véus de almas sonolentas.
Na sala há livros, risos, porcelanas,
E um abajur que acende devagar.
No canto o tempo escreve suas canas,
E o amor descansa para recomeçar.
Cada cômodo exala calma antiga,
E o ar respira em tom de cantiga.
III
A mesa é altar do pão e da conversa,
O vinho é prece, o gesto é comunhão.
O amor não fala alto, se dispersa
No toque simples de uma refeição.
O cheiro do café resume a vida,
O sol da tarde entra pelo vidro.
E o tempo, que não dorme nem duvida,
Se deita em paz no lume do abrigo.
Na cozinha o mundo se reequilibra,
E a alma encontra o tom que a reanima.
IV
No quarto, o lençol tem cheiro de infância,
O travesseiro guarda confidências.
E o corpo, em sua dócil relevância,
Encontra a fé nas próprias coincidências.
As janelas respiram o entardecer,
Com tons dourados de melancolia.
O amor, cansado, aprende a renascer,
E o sono vem em branda sinfonia.
Até o sonho aceita o que o destino
Chama de paz no chão do peregrino.
V
E se o tempo, um dia, nos pedir abrigo,
A casa abrirá as portas para ele.
E o destino, cúmplice e amigo,
Nos devolverá em forma de aquarela.
Pois o amor é lar, é luz, é chão:
A eternidade em construção.
…
(Betto Gasparetto- viii-mmxxii)
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