(Betto Gasparetto)

By Kontext 2v1+InG Flux Schnell+ Starlight XL, Atomix XL v4 Lightning
I
Se o mundo ruge e o caos se multiplica,
Tua voz organiza o calendário.
O peito segue o ritmo que indica,
E a vida acha sentido solidário.
Teu nome é pausa entre uma era e outra,
É o intervalo em que o sol descansa.
Na ampulheta do afeto, a rota é outra,
E o grão do tempo é pó de confiança.
Tudo o que urge cede à calmaria,
E o amor se ergue como liturgia.
II
Não peço eternidade em monumento,
Mas o instante claro que nos contém.
O tempo é breve, o gesto é fundamento,
E o coração conhece o seu além.
Se amanhã vier frio, trarei coberta;
Se vier calor, serei sombra e abrigo.
A vida, em ti, é estrada descoberta,
E o tempo, em nós, aprende o que é antigo.
No livro das horas, reescrevi
Que o tempo é amor quando está em ti.
III
Se a morte vier em seu compasso exato,
Encontrará dois corpos no descanso.
E o céu, ciente, ouvirá o relato
De dois amores plenos, sem remanso.
O tempo, ouvindo, há de parar também,
E o mundo, em respeito, guardará.
Pois o amor, que é alma e chão de alguém,
É quem ensina o tempo a perdoar.
E as horas, antes firmes, vão sorrir:
Não há relógio que saiba medir.
IV
Assim seguimos, fora do costume,
Com o olhar que eterniza o cotidiano.
E o coração, em sua doce fome,
Descobre o pão do gesto soberano.
Amar-te é suspender toda medida,
É dar à vida um eixo e uma estação.
E o tempo, ao ver, desiste da corrida,
Pois já entendeu a nossa dimensão.
E o relógio, cansado de esperar,
Canta as horas que o amor quis poupar.
(Betto Gasparetto- viii-mmxxii)



